O maior acervo de máquinas de costura do Brasil
A visão que devemos de ter dos Museus é que essas instituições culturais preservam um passado que possibilitou a sociedade um presente, pois das primeiras peças originaram-se outras melhores, e que se transmutará em um futuro modernizado e benéfico para a continuidade da evolução humana.
A palavra Museu significa a residência onde vive a memória. E a memória está intimamente ligada ao passado permitindo com que nós, através desse processo de construir e dar vida a esse passado, consigamos desenvolver uma imagem solidificada em uma identidade que nos representa a nós mesmos.
Em um Museu, encontra-se a pluralidade da humanidade representada em suas diferentes peças e histórias. O patrimônio cultural preservado e acessível para insuflar o conhecimento, o escândalo, a indagação, o desconforto e o parar do tempo em nossas mentes.
Em Concórdia SC, Oeste do Estado, encontra-se o Museu Angelo Spricigo – MAS. Teve suas raízes iniciais quando um senhor de 82 anos, ao perder a esposa, apegou-se às duas máquinas de costura, nas quais ele sempre viu ela costurar, para tentar fazer com que a perda da esposa fosse amenizada. Nessas duas máquinas, o Sr. Angelo Spricigo trabalhou fazendo uma revisão. Esse desmontar, lubrificar, analisar o funcionamento, remontar, permitiu que ele estivesse em contato com a amada, que ele sentisse que ela ainda estava ao seu lado. Dessas duas máquinas de costura somaram-se outras e a oficina estava habitada por um homem que tinha descoberto um novo amor incondicional e a sua fonte da juventude: a máquina de costura.
Aos 91 anos de idade, o Sr. Angelo Spricigo possuía 150 máquinas de costura. E o amor imenso que tinha pelas máquinas se observa quando ele dizia que “cada filha nova, por mais velha que seja, eu trato com carinho. Eu conserto, pinto e cuido delas”. E voltado para o futuro e sabedor da importância de preservar o patrimônio que estava construindo, disse: “Quero colocar em exposição. Todas as máquinas de costura são de alguma época e podemos ensinar algo para as pessoas, tanto da história quanto do povo que a adquiriu”.
Com 95 anos de idade o Sr. Angelo Spricigo já tinha 520 máquinas de costura e agora a palavra exposição tinha se tornado em algo mais ousado e desafiador, um Museu. Imbuído de determinação foi enfático quando declarou que “não vendo a coleção por preço nenhum e quero fazer um museu para abrigar todas elas”.
19 de abril de 2013, sexta-feira, cinco dias antes de completar 98 anos, o Sr. Angelo Spricigo inaugura seu sonhado Museu. Nessa data o acervo do Museu Angelo Spricigo era composto por 874 máquinas de costura. “Trabalhar não mata ninguém” ele dizia e completava sua fala ao declarar que “tenho carinho por todas elas”.
No ano seguinte, em 25 de abril de 2014, recebeu do RankBrasil o certificado pelo recorde brasileiro: “Maior Coleção de Máquinas de Costura”. O museu possuía 1.080 máquinas de costura no acervo.
As doações eram constantes e de todas as regiões do Brasil. Inúmeras histórias acompanhavam as máquinas que eram repassadas aos visitantes. E cada vez mais aumentava a importância, do já importante Museu, em preservar o patrimônio histórico e cultural que é da humanidade.
E no domingo, 23 de agosto de 2020, o Sr. Angelo Spricigo, com 105 anos de idade, respirou pela última vez o ar da terra. Dos 16 cartoons que mostram as principais datas de sua vida, criados por uma cartunista local, o 16º diz: “A história continua”. Sim, continua pois o nosso fundador partir, mas tudo o que ele construiu terá continuidade por nós, que estamos hoje aqui, e por outros que virão.
Atualmente o MAS possui em sua acervo 1976 máquinas de costura, 250 marcas diferentes de máquinas de costura e 20 nacionalidade de onde foram produzidas. O acervo é aberto à visitação pública e participa das redes sociais com site, www.angelospricigo.com.br, Facebook, Instagram e TikTok.